sábado, 9 de fevereiro de 2008

Concerto do Toque De Caixa



concerto dia 25 de Abril, em Alcochete
22.00H

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Penguin Cafe Orchestra - BBC Broadcast '89

Miguel Torga

Miguel Torga

O Caçador


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Trôpego, o Tafona já não chegava às perdizes da Cumieira. Por isso, arrastava-se até Pedralva e caçava de espera. Caíam rolas no cedo, uma lebre ou outra pelo ano adiante, e coelhos quase sempre. No defeso, fornecia a casa e a barriga sem fundo do compadre Frederico; no tempo da permissão, vendia-lhe a Joana Benta as caveças na Vila.

- Veja vossemecê... - dizia ele, a contratar o preço. - Eu sei lá!...

Com oitenta e cinco anos, a vida fora-lhe sempre estranha como se a não tivesse conhecido. Casara, tivera filhos, mas nada disso o tocara por dentro. Virgem e selvagem na alma, continuava a caçar, e só embrenhado entre giestas e urgueiras é que ouvia, se ouvia, os clamores da mulhner e o ganido das crias.

Saía cedo, sempre supersticioso das menstruações da Camila, a vizinha do lado, que lhe mudavam a direcção do chumbo, e regressava altas horas da noite, colado ao granito das paredes, e assim escondido dos olhos curiosos da povoação.

- Por onde andaste?

- A pobre da Catarina, a princípio, ainda tentou encontrar naquele destino pontos de referência em que pudesse firmar-se. Mas as respostas vinham tão vagas, tão distantes, que se atirou às leiras e deixou o homem às carquejas. Não era que ele mesmo enredasse os caminhos e despistasse conscientemente a companheira. As peripécias da caça e a cegueira com que galgava os montes é que o impediam à noite de relatar o trajecto seguido. Se quisesse e soubesse dizer por que trilhos passara, falaria de veredas e carreiros que nunca conhecera, descobertos na ocasião pelo instinto dos pés e rasgados no meio de uma natureza cósmica, verde como uma alucinação, com alguns ramos vistos em pormenor, por neles pousar inquieto um pombo bravo ou se aninhar, disfarçada, uma perdiz. Ás vezes até se admirava, ao regressar a casa, de tanta bruma e tanta luz lhe terem enchido simultaneamente os olhos. Serras a que trepara sem dar conta, abismos onde descera alheado, e um toco, um raio de sol, o rabo de um bicho, que todo o dia lhe ficavam na retina. É claro que nem sempre as horas eram assim. Algumas havia de perfeita consciência, em que nenhum pormenor da paisagem lhe escapava, as próprias pedras referenciadas, aqui de granito, ali de xisto. Mas, mesmo nessas ocasiões, qualquer coisa o fazia sonâmbulo do ambiente. Era tanta a beleza da solidão contemplada, despegava-se das serranias tanta calma e tanta vida, os horizontes pediam-lhe uma concentração tão forte dos sentidos e uma dispersão tão absoluta deles, que os olhos como que lhe abandonavam o corpo e se perdiam na imensidão. Simplesmente, essa diluição contínua que sofria no seio da natureza não excluía uma posse secreta de cada recanto do seu relevo. Uma espécie de percepção interior, de íntima comunhão de amante apaixonado, capaz de identificar o panasco de Alcaria pelo cheiro ou pelo tacto. A caça fora a maneira de se encontrar com as forças elementares do mundo. E nenhuma razão conseguira pelos anos fora desviá-lo desse caminho. A meninice começara-lhe aos grilos e aos pardais, a juventude e a mairoidade passara-as atrás de bichos de pêlo e pena, e agora, velho, as contas do seu rosário eram meia dúzia de cartuchos que, sentado, ia esvaziando no que aparecia. E a vida, a de todos os dias e de toda a gente, com lágrimas e alegrias, ambições e desalentos, ficara-lhe sempre ao lado, vestida de uma realidade que que não conseguia ver. A aldeia formigava de questões e de raivas, e ele coava- lhe apenas a agitação de longe, vendo-a fumegar na distância, ao anoitecer, e acariciando-a então num cansaço doce e contemplativo.

- Casou a Dulce...

- Ah, sim?...

Ouvira, de facto, imprecisamente, a voz do sino grande chegar repenicada e festiva ao Falição, mas o seu espírito não pudera nesse momento, nem podia agora, descer da nuvem de abstracção que o envolvia.

- Muito bonita ia o demónio da rapariga!

Humana, mulher, a Catarina tentava chamá-lo a uma consciência que reanimasse fogueiras mortas, sonhos desfeitos. Nada. O pensamento dele não estava ali: perdia-se nos projectos do dia seguinte, já cheio do rumor alvoroçado do bando de perdizes que sabia ir levantar da cama ao romper da manhã.

- Morreu a Palhaça...

- Ah, morreu?

E continuava a dar à manivela do rebordador, encontrando no cartucho, túmido como uma semente, não sabia que verdade mais profunda e mais transcendente do que aquela morte.

A velhice e o reumatismo tentaram com toda a brutalidade metê-lo noutros varai. Mas ele lutava, e, embora limitado às cercanias da aldeia, continuava ainda a sonhar.

Contudo, sem a liberdade absoluta dos longes, o seu espírito já não podia voar como dantes. A povoação ficava-lhe demasiado perto para lhe ser possível um alheamento como o de outrora. E os olhos, cansados e traídos, começaram a mostrar-lhe o mundo triste dos outros. Contra vontade, observava, então. Mas em casa, à noite, a mulher punha o acontecido a uma luz tão desconforme com o que ele vira, tão alheia à sua compreensão, que fechava a boca e não respondia.

- Os Canedos berraram...

- Eu vi...

- A cunhada chamou curta à Ana... O que ouvira eram gritos, evidentemente, insultos, com toda a certeza, mas nomes asssim... E uma tristeza muda apertava-lhe o coração.

- Um roubo em casa do Antunes...

- Bem me pareceu...

- Batatas, trigo, muita roupa, um presunto...

Quase que surpreendera o Rodrigo e a mulher com a boca na botija, e sabia que não, que o que esconderam na mina velha, e pudera examinar à vontade, era uma sombra daquilo. De maneira que cada vez se metia mais consigo, com medo do vidro de aumento que deformava tudo e envenenava os sentimentos. Porque uma coisa sabia ele: é que quase um século de caça não lhe endurecera nem lhe empeçonhara a alma. Matara, sim, e matava ainda, se podia, mas não era com ódio, a gritar maldição, que o tiro partia. Mais amorosamente do que mortalmente, o dedo premia o gatilho. E quando, a seguir, a lebre esperneava ou a codorniz gemia, a sua mão aligeirava docemente aquela agonia, numa carícia aveludada. Entre o sangue de pertiz morta - que através do cotim da calça, morno, lhe acordava a consciência da pele - e o seu próprio sangue, não havia o muro de nenhuma desarmonia. A morte que a arma fazia tinha no mesmo instante uma ressurreição dentro dele.

Mas a aleluia do formigueiro humano que o rodeava era outra.

- A Rosária a flara em moralidade! Se reparasse na filha...

- A Matilde? Qu fez ela?

- Nem tu sabes!

Palavra, que não sabia. Atravessara os anos como um duende, puro, alheio à raiva e à ganância, inocente, pronto a comover-se diante da primeira flor. Uma virtude, sobre todas, conservara sempre: a da lisa naturalidade. E por isso, no meio da incapacidade que sentia para entender o tecido de razões com que era feito o mundo que o cercava, a malha que menos o prendera era aquela onde se dabatiam forças e gestos de amor. O cio, a brisa de sémen que agitava todos os seres vivos durante alguns dias em cada ano, sabia-lhe à frescura de uma onda sagrada. Então, oleava e arrumava a arma, e os seus olhos, de caçador ainda, seguiam a revoada do casal de melros, o trajecto de um coelho, as pegadas da raposa, mas para os acompanharem comovidos naquela dádiva sensual e procriadora.

Infelizmente, só ele é que entendia de uma maneira assim inocente as coisas que tinham intimidade de ninho e calor de seiva. Porque a aldeia, que olhava compreensivamente as reses alevantadas, diante de uma rapariga cega de amores erguia-se como se visse um crime.

- Ela e o Avelino parecem cães à cainça.

- E que mal há nisso? Maiores e vacinados, que tinha que ver o mundo com o que o corpo lhes pedia? Mas os pais, aqui-del-rei que os enforcavam se olhassem sequer um para o outro, e a terra inteira aplaudia. Acontecia ainda que o Travassos, todo lá da mãe da rapariga, punha em semelhante martírio a sombra de uma perseguição.

De fora, mas infelizmente não de tão longe como desejava, o Tafona assistia à cena. Sentado à sombra da nogueira molar, e perto da poça onde vinham beber, esperava as rolas. E lá em baixo, na veiga, o seu olhar cansado ia acompanhando a comédia. A cachopa, de molho à cabeça, a pasar na Silveirinha; o rapaz a deixar a rabiça na lavrada e a sair-lhe ao caminho; e o esqueleto deo Travassos, abelhudo e ciumento, a correr a avisar as famílias.

Via e ficava a malucar naquilo, no contra-senso de tudo e de todos. Pois não seria melhor, mais justo, mais humano, deixá-los juntarem-se livremente, à lei da natureza? Contudo, daí a nada, a rapariga ia a Toque de caixa pelo Teixo abaixo, e o rapaz retomava o arado a ouvir berros do pai.

- Uma pouca vergonha... - recomeçava a Catarina à noite, depois do caldo.

- O quê?

- O que há-de ser? A Matilde e o Avelino... Se não o Travassos...

Calou-se como de costume. Decididamente, cada vez entendia menos tal mundo.

Mas as pernas atraiçoavam-no miseravelmente, e embora quisesse fugir para muito longe, tinha de se resignar às leis da idade e caçar de emboscada coelhos pacatos na vinha velho do prior.

Era um Setembro puro. Videiras que pareciam cedros e cachos com bagos como bugalhos. Manco, o Tafona, foi-se arrastando e ainda a tarde vinha a cair além-Doiro já ele estav no seu posto, sentado, imóvel e silencioso, com a arma engatilhada sobre a coxa.

Como habitualmente, quase nem respirava. Por muito inocentes que fossem os láparos, farejavam ruído a cem léguas. E o Tafona, conhecedor daqueles ouvidos, apertava os pulmões.

A espera nunca lhe dava inteira paz de espírito. Forçava-o a uma espécie de compromisso com a parte traiçoeira da vida, estremando os campos do agredido e do agressor. Entre ele e o bicho não havia, daquela maneira, um verdadeiro encontro, um embate de forças. Tudo se passava sem alegria e sem eco, choque abafado, como o de uma pinha aberta a cair no musgo.

Subitamente começou a sentir sons indistintos. Prestou atenção. Passos. Passos de gente, e grande.

- Bolas! - disse, sem abrir a boca. De facto, perdera o tempo. Para que tudo retomasse a quietude inicial e os coelhos se resolvessem a vir gozar a fresca, seriam precisas horas, e então já não teria luz.

Os passos eram da Matilde, sorrateira, a saltar um bardo e a sumir-se na vinha.

- É boa!... - murmurou outra vez intimamente, agora noutro tom.

Mas ainda o seu espanto não acabara, já o Avelino, do lado do monte, lépido, deslizava para o meio da ramagem.

Riu-se. Desta vez riu-se com a sua mansidão habitual, sem barulho, enternecidamente, como se estivesse nos velhos tempos e visse no azul do céu dois pintassilgos a voar para o mesmo ninho.

Infelizmente, os namorados a desaparecerem, e sobre eles, de nariz no rasto, numa perseguição de rafeiro, o Travassos que, por acaso, caminhava direito à arma do caçador.

O Tafona nem teve tempo de pensar. Parou a respiração e encolheu-se quanto pôde atrás do esconderijo.

O abelhudo vinha apressado e chegou a tiro.

- Alto lá! - ordenou-lhe então, sereno, mostrando o corpo.

O Travassos estacou, apalermado. Por fim viu quem era e falou-lhe:

- Sou eu, ó ti Zé!

- Bem sei. Mas não te mexas.

- O Travassos, ti Tafona. Deixe-me ir salvar a infeliz!

A tremer e de olhos esgazeados, o zeloso coscuvilheiro não conseguia perceber. Mas o Tafona tinha-lhe friamente a espingarda endireitada ao peito, e ninguém da aldeia confiava na alma solitária do caçador.

- Alto, e nem tugir nem mugir! Aquelas coisas querem-se na paz do Senhor...

   Torga, Miguel,  Novos contos  da montanha,
13a edição, s.e., Coimbra
s., pp. 53-63


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VozDiPovo-Online

VozDiPovo-Online .::. Cabo Verde e o Mundo

Wednesday
Jan 16th
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António Tavares leva musica de Cabo Verde ao Douro
20-Ago-2006

Músicos cabo-verdianos, brasileiros, portugueses, moçambicanos vão actuar em oito localidades da região duriense em Setembro, comemorando os 250 anos da Região Demarcada do Douro e a abertura deste território "ao mundo". É o festival "Outras Músicas", que decorrerá entre os dias 1 e 23 de S etembro em Alijó, Lamego, Mirandela, Régua, São João da Pesqueira, Torre de Moncorvo, Vila Flor e Vila Real.

Fonte da Comissão Executiva das Comemorações disse hoje que o evento pr etende assinalar o sentimento de "abertura ao mundo" desta região, através da presença de "outras músicas" deslocadas de países com "histórias cruzadas" com Portugal. Actuam no festival o Quinteto Violado (Brasil), Toque de Caixa (Portugal), António Tavares (Cabo Verde) e Timbila Muzimba (Moçambique). O Quinteto Violado nasceu há 35 anos e traz no seu repertório clássicos da música popular do nordeste do Brasil.

António Tavares nasceu em Cabo Verde, onde iniciou o seu trabalho na ár ea da dança, tendo fundado em 1991 os grupos de dança Crêtcheu e Compasso Pilon, e desenvolveu paralelamente um trabalho de pesquisa sobre a Dança Africana. Na área da música tem colaborado como percussionista, entre outros, com o grupo de novas tendências da música tradicional cabo-verdiana Sossabe, Vasco Martins, Victor Gama, Projecto Pangeia e o grupo Sulabanku.

A orquestra Timbila Muzimba, criada em Agosto de 1997 nos arreadores da cidade de Maputo, combina instrumentos musicais, ritmos e melodias tradicionais com contemporâneos. O grupo português Toque de Caixa formou-se em 1985, integra oito elemen tos e criou uma "nova música tradicional", que conjuga ambientes sonoros moderno , antigos e clássicos.

Avante com a programação mais forte dos últimos 10 / 15 anos

July 20, 2006

A Festa do Avante celebra este ano o seu 30º aniversário e apresenta o cartaz mais forte dos últimos 10 / 15 anos, com concertos internacionais tão interessantes como aquele que juntou JUNE TABOR + OYSTER BAND e também os canadianos LA BOTTINE SOURIANTE há uma década atrás. Senão vejamos esta edição que se realiza entre os dias 1 e 3 de Setembro. Ter a nova coqueluche do reggae / ska circence francês - BABYLON CIRCUS (na foto - já estiveram este ano no Med de Loulé e ainda vão ao Festival Maré de Agosto dos Açores) - já é muito bom. Acrescentar ainda os selvagens ciganos romenos TARAF de HAÏDOUKS e as exploradoras brasileiras de todo-o-terrenos - MAWACA - fica ainda melhor. HÁ ainda o “hipnoceltadelic” dos escoceses PEATBOG FAERIES. No plano nacional, destaque para uma nova apresentação de “Sátiro” dos GAITEIROS DE LISBOA (novamente acompanhados pelo MANUEL ROCHA da BRIGADA), SÉRGIO GODINHO, CRISTINA BRANCO (que está a preparar um espectáculo especial sobre a obra de ZECA AFONSO para apresentar em 2007 no São Luiz), A NAIFA, MANDRÁGORA, CONTRA3AIXOS, TOQUE DE CAIXA, o projecto NAVEGANTE de JOSÉ BARROS acompanhado do O Ó QUE SOM TEM e da cabo-verdiana NANCY VIEIRA, para além da Homenagem a LOPES GRAÇA (Com CORO LOPES GRAÇA DA ACADEMIA DE AMADORES DE MÚSICA e SINFONIETTA DE LISBOA, com o maestro VASCO PEARCE DE AZEVEDO e os pianistas MIGUEL BORGES COELHO e OLGA PRATZ; e da música de ALAIN OULMAN, com CARLA PIRES, ANTÓNIO ZAMBUJO e LIANA; e do tributo a ANTÓNIO ALEIXO com KUSSONDULOLA + VIVIANA, PRINCE WADADA e KILANDUKILO. DJUMBAI JAZZ (Guiné-Bissau), MAYRA ANDRADE e TITO PARIS (ambos de Cabo Verde) representam no AVANTE a África Lusófona.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Diferencial/José Duarte:Referencia ao Toque de Caixa

José Duarte: Azul Português João Henriques Carlos Almeida

Conhecido pelos seus programas de televisão e rádio, sempre em defesa da boa música e, em particular, do Jazz, José Duarte lança nesta entrevista um olhar sobre a sua carreira, a cena musical e muito mais.

A conversa da qual resultou esta entrevista decorreu em casa de José Duarte em Maio do ano passado. Durante cerca de hora e meia muitos e variados foram os temas abordados, embora com predominância natural da música, tornando esta entrevista uma leitura essencial para quem, como o nosso entrevistado, tem na música não apenas uma paixão, mas um amor para toda a vida.

Diferencial: Contam-se muitas histórias acerca da sua ligação ao Técnico. Reza a lenda que os primeiros concertos de Jazz em Portugal terão sido organizados pelo José Duarte precisamente no Técnico. Qual foi, afinal a sua relação com o Técnico?

José Duarte: Sim, houve vários concertos que eu organizei, mas os primeiros... também não sou tão velho como isso.

Nós fazíamos três espécies de actividades com a Associação do Técnico. Nós, digo eu, éramos, nessa altura, os membros mais activos de um clube Jazz que houve e que se chamava clube universitário de Jazz e que estava ligado à organização das Associações de Estudantes, à R.I.A. que era a Reunião Inter Associações, e onde cada um estava ligado à associação a que pertencia, eu andava em económicas na altura, mas o Técnico tinha um prestígio... liderava um bocado as Associações. E então, para divulgar o Jazz, eu principalmente mais um ou dois do clube Universitário de Jazz fazíamos três espécies de actividades que eram sessões que nós chamávamos, na altura, fonográficas. Íamos para lá, dávamos discurso, púnhamos discos e depois trocávamos impressões com a assistência. Devo dizer-vos que aquilo era um sucesso. A malta gostava muito de ouvir Jazz e de discutir e fazer perguntas sobre Jazz - onde está essa gente, pergunto eu.

Outra [actividade] era organizar sessões com músicos portugueses, os que havia que, proporcionalmente à idade política e cronológica do país era, apesar de tudo, [num número] semelhante ao que é hoje. Isto parece um bocado surpreendente, mas é um facto, pelo menos na minha opinião, ou seja, hoje não há tantos músicos de Jazz bons como na altura havia, progrediu-se pouco nisso, penso eu apesar de termos uma orquestra - uma orquestra que não funciona com qualidade e que vive também à custa de músicos que não são de Jazz e que estão lá a cobrir postos de trabalho que não existem, como sejam trombonistas que não há em Portugal.

A terceira actividade era com bandas que, palpitem, apareciam por aí nos barcos de guerra americanos. Era a única possibilidade de termos músicos estrangeiros, e eles aproveitavam isso para, enfim, fazerem a sua propaganda, mas eram simpáticos. Quantos músicos de Jazz famosos teremos visto sem dar por isso, que estavam na altura na chamada tropa. Enfim, depois da guerra eles davam chocolates na Itália, aqui davam Jazz.

Dif.: Mas isso tudo passava-se num clima de Estado Novo, o Jazz era considerado na altura como algo subversivo...

J.D.: E era.

Dif.: Mas como é que era possível organizar esse tipo de coisas. Era tudo às escondidas?

J.D.: Não. O Técnico tinha muita força. Eu penso que, para a PIDE, tocar no Técnico era uma decisão ponderada, e era feito como uma actividade cultural. Nós tínhamos muita prática disso e não nos expúnhamos em público.

A PIDE considerava nessa altura o Clube Universitário como um bando de bandidos, comunistas, amantes da cultura negra, perigosos adversários do regime; e tinha razão, era uma boa polícia de facto, só não éramos era bandidos, o resto estávamos lá todos. Estava a minha geração, que está agora a sair do poder, que já esteve no poder no 25 de Abril e nos anos seguintes, quer a portuguesa quer a moçambicana, angolana,... estava lá toda no Clube Universitário de Jazz. E de facto usava-se o Jazz porque se gostava de Jazz e se gostava de passar essa paixão, mas por outro lado era uma arma para resistir, para fazer exposições de cultura africana, para fazer colóquios...

Quantos tipos da PIDE não estiveram em sessões dessas que eu fiz por esse país fora. Levava os discos e ia conversar a Castelo Branco, a Vila Real, às duas Vilas Reais...

Dif.: Até se conta uma história de que uma vez deu uma palestra para uma só pessoa... J.D.: Custava muito (ainda hoje me custa) falar para uma só pessoa (o que ainda hoje sucede). Era um médico em Estremoz, um grande amigo meu, que lá foi e que tinha um grande sentido de humor. No fim disse "gostei muito, gostei muito"- "gostou da música?" - "não, na música desligava o aparelho, gostei muito foi de te ouvir".

Dif.: Há pouco estava a dizer que há poucos músicos de Jazz em Portugal. Segundo julgo saber o Jazz tem uma raiz essencialmente popular; no entanto hoje em dia há quem considere que, em termos de teoria musical, é das músicas mais exigentes, bastante mais do que, por exemplo, a música clássica. No entanto, a única escola de música dedicada ao ensino de Jazz em Portugal é o Hot Clube que tem mensalidades elevadíssimas. Isso não poderá estar a afastar muita gente potencialmente interessada do Jazz?

J.D.: Bom fez aí várias perguntas e várias afirmações. Eu discuto, e penso que não tem razão, quando diz que o Jazz é mais difícil ou mais fácil do que a música clássica.

Em segundo lugar o Jazz sempre foi tão difícil como é hoje, porque é uma música que vive à custa da capacidade individual e colectiva dos músicos. Ou seja, por ser uma música de improvisação, de criação na altura, instantânea, quem tem unhas é que toca Jazz; e portanto ou a pessoa tem capacidade para criar e transmitir discursos bem feitos, bem executados e interessantes ou não, e isto não se aprende em nenhuma escola. Depois a base teórica é importante mas não é tão diferente das outras músicas como isso. O que é diferente são uma ou duas bases essenciais e que se situam, por exemplo ao nível rítmico, isso sim é que é essencial.

O Jazz tem uma tradição cultural africana, logo, que nos é completamente estranha. Apesar de termos sido colonizadores durante séculos, não percebemos nada de cultura africana, somos puros ocidentais. Temos uma colocação periférica na Europa, o que sempre nos dá vantagens - somos o povo que eu conheço que tem maior facilidade em se meter em diversas músicas. Nós dominamos com à vontade e percebemos bem a música americana, do sul e do centro (os boleros e os sambas); nós percebemos a música francesa, falamo-la e cantamo-la com bom acento; nós percebemos a música inglesa, falamo-la, pronunciamos bem as palavras, sem sotaque, entendemo-las; Somos, como se costumava dizer, um lugar geométrico de toda esta diversidade de músicas, embora não tenhamos jeito para nenhuma em especial, a não ser para a nossa. Mas, penso que com a cultura africana é que não. Apesar de gostarmos muito dela. A música cabo verdeana é a mais famosa, mas mesmo com a música angolana e a música moçambicana nós damo-nos muito bem, dançamos muito bem e somos muito amigos e cultores dessa música, mas de facto, ao nível rítmico é que nos altera todo o nosso sistema, porque o Jazz propõe uma prática permanente que é oposta àquela em que nós fomos educados e crescemos. É o problema dos tempos fracos e dos tempos fortes. [No entanto] o que é um tempo forte em Jazz é um tempo forte na música em que nós fomos educados. O que lança uma grande confusão nos espíritos é que se altera todo o edifício.

Dif.: Mas enquanto que numa pauta clássica a teoria está lá, estão lá os modos, os sustenidos, enfim tudo, em jazz é necessário ter sempre presente que em cima de determinado acorde podemos usar determinada escala ou modo.

J.D.: Exige mais criatividade, não está tudo escrito, aliás em nenhuma música está tudo escrito, mas na erudita está mais escrito do que na música Jazz. Depende muito da sua escolha, do seu gosto (bom ou mau ou assim assim), depende muito da sua criatividade. Essa é que é a grande dificuldade do Jazz; e isto tudo feito em moldes diferentes dos que está habituado.

Em relação à escola de Jazz do Hot Clube, a minha impressão não é favorável. Acho que os professores ainda são músicos (não sei se me faço entender); infelizmente as instalações são péssimas (eles têm uma esperança, oxalá se concretize, de ampliar a escola e as instalações do clube para se estender pelo prédio todo, o que era bom, aquilo é um clube que já não serve sequer a pobre cena do Jazz em Lisboa), para além de ideologicamente se saber que certas disciplinas dos cursos são dadas de um modo que é altamente discutível. Penso que praticam tarifas altas (e vivem um bocado aflitos de dinheiro apesar de já terem vivido pior), e que estão desactualizados em relação às necessidades e à procura.

Dif.: Qual é a dificuldade para nós, portugueses, em aceitar o Jazz. É rítmico? Porque é que os «cinco minutos de Jazz» não são já «vinte minutos de Jazz».

J.D.: A primeira pergunta penso que é universal. O Jazz será sempre uma música de minorias (não disse elites porque sou uma pessoa educada). São pessoas com pré disposição para a música, com capacidades musicais natas e que depois se vão aperfeiçoando e melhorando e têm maior facilidade em se dar com a música.

Repare que você passa por França ou por Paris e não dá muito pelo Jazz. Você vai a Nova Iorque e não dá rigorosamente pelo Jazz, não vê um cartaz, não vê um programa de televisão, não vê uma revista. Os clubes estão lá, mas é preciso saber onde é, é preciso ir ao jornal e procurar naquela página, é preciso saber que aqueles tipos tocam Jazz e estes não, porque não está objectivamente lá posto que é Jazz.

Perguntou-me porque é que nós não gostamos muito de Jazz, eu penso que somos nós como todos, não somos mais estúpidos nem mais avessos à música, antes pelo contrário, que a maioria dos povos. Quão ridículo é ver um norte americano a tocar a bossa nova, apesar de tecnicamente ser um espanto, não tem aquele feeling, aquela batida que só nós (alguns de nós, claro) e os brasileiros sabem. Que ridículo é ver um inglês a cantar Piaf ou um espanhol a cantar Sinatra, enquanto nós nos safamos mais nisso, também porque a nossa língua se presta mais a isso.

Os "cinco minutos de Jazz" revelam isto exactamente que eu disse, é a técnica do "Ah, é tão bom, não foi?", porque se é mais do que aquilo, hoje em dia isto não é tão verdade como era antigamente (melhor fora), os "cinco minutos de Jazz" em sessenta e seis, nessa altura é que eu andava a arriscar a minha liberdade diariamente, e tenho lá dentro correspondência anónima que me mandaram que envergonharia qualquer padre.

Mas o sucesso dos "cinco minutos" creio que reside em duas características: o ser cinco minutos (que nunca é, são sempre sete ou oito) e o indicativo que foi feliz, o pôr a voz em cima daquele tema de Jazz.

Eu faço aquilo leve para não encher as pessoas de nomes e de conceitos, e tenho um propósito de escolher tudo o que há em Jazz, sem estilos ou músicos dominantes, e, dentro disso, as peças mais apetecíveis, as que ficam mais no ouvido. E pronto, é insistindo (e isto é uma das técnicas da publicidade), é insistindo é que se vende, e como o programa tem quase trinta anos, lá eu vingo-me.

Eu comecei a trabalhar com Jazz na rádio universidade em 58, a fazer um programa de Jazz que se chamava "Jazz, esse desconhecido", e digo-lhe que acho que não perdi tempo, gozei muito eu, pessoalmente, e dei a gozar a muita gente com certeza, mas não foram grandes as vitórias. As gerações substituem-se e permanecem sempre na mesma. O que eu dizia à bocado, onde é que estão aqueles alunos do Técnico, pergunto onde é que estão as centenas de milhares de pessoas que enchiam os concertos de Cascais, os primeiros cinco ou seis.

Eu penso aliás que as duas coisas importantes para uma certa agitação, para um certo falatório sobre o Jazz, nestes últimos anos, os concertos e o aumento de interesse que houve pelo Jazz foram dois extremos: aos "cinco minutos", à presença chata, diária, subliminar, e aos grandes êxitos, monstruosos das quinze mil, doze mil, dez mil pessoas a verem os primeiros concertos em Cascais. Acho que com Cascais e com os "cinco minutos" é que o Jazz, recentemente tem este destaque, é graças a esses dois extremos. Mas já sei que vocês quando forem engenheiros... um engenheiro não ouve Jazz. Um engenheiro casa-se (todos os engenheiros se casam), e depois um engenheiro veste-se, um engenheiro tem outros hábitos... e começa a ouvir outro tipo de música, normalmente a erudita, a ouvir um Rock adulto, com música lá dentro, e esquece o Jazz. O Jazz é a amante, a malta nunca se casa com o Jazz.

Dif.: Em relação à nova música que tem aparecido. A esta onda de rock básico, três acordes, umas palavras com um conteúdo de raiva muito acentuado. Como é que vê a evolução do gosto musical das camadas jovens? Um exemplo claro é que no seu tempo os universitários juntavam-se para ouvir Jazz, hoje juntam-se para ouvir Quim Barreiros, o que seria uma coisa impensável nessa altura.

J.D.: Não só. Juntam-se para ouvir Pedro Abrunhosa.

Dif.: Também queríamos falar sobre ele...

J.D.: Acho essencial o Pedro Abrunhosa. Acho que é muito importante... acho que é impecável a música. Acho que tem um balanço como nunca houve em Portugal...

Tem uma mão do Maceo Parker e também tem uma mão do baterista [Mário Barreiros] que é o grande músico daquilo, que planeia, que ensaia, que estrutura aquilo, embora a chama tenha saído da cabeça do Pedro. Acho do choque que foi o Rui Veloso em 1980, só o Pedro Abrunhosa. A música andou parada este tempo todo.

Portanto penso que a juventude não se junta só a ouvir Quim Barreiros, junta-se a ouvir ouras coisas, e eu tenho uma grande fé, apesar de tudo, uma grande esperança na juventude porque a conheci melhor no meu programa de televisão «Outras Músicas» porque vi muita gente nova, com uma educação despoluida musicalmente, a interessar--se pela música portuguesa autêntica. A trabalhar e a estudar música e instrumentos portugueses, a reconstruir instrumentos portugueses, a praticar em grupo música boa (estou-me, por exemplo a lembrar de dois grupos: «Toque de caixa» e o «Vai de Roda»), há vários, malta nova, da vossa idade e mais nova que acredita nisto e que até à vitória final a esperança não morre, pelo menos. Portanto há muita gente que não só não vai como se ri e percebe o significado do Quim Barreiros do Marco Paulo e desse tipo de música. Só que há uma diferença fundamental entre o Quim Barreiros e o Marco Paulo: o Quim Barreiros é uma pessoa que sabe o que está a fazer.

Eu penso é que isso é mais explicado pelo sistema, vocês não são do tempo... não foi à tanto tempo como isso, vocês são é novos, em que se centravam os interesses da juventude em duas ou três áreas, que eram a música, o futebol e o fado.

Dif.: Porquê essa distinção entre a música e o fado?

J.D.: Para ser mais preciso. Música má, o nacional cançonetismo como se chamou a esse tipo de música. E hoje em dia está-se a passar exactamente o mesmo. Hoje em dia você vê futebol como nunca viu na televisão, quase diariamente, estrangeiro, nacional segundas divisões, primeiras; vê o renascimento do fado, as novas tendências do fado, portanto o revivalismo do fado (eu gosto de fado bem cantado), e vê a outra música, essa, a pirosa a triunfar e as pessoas todas a gostarem. É mais fácil gostar do que não presta do que gostar do que presta, embora a qualidade vença sempre, mais tarde ou mais cedo.

Dif.: E em relação aos Madredeus, como vê esse fenómeno.

J.D.: Acho bocejante, não consigo ouvir mais que dois minutos. Acho que é uma pena ela [Teresa Salgueiro] estar-se a estragar ali. Para além de ser muito bonita, canta muito bem, mas canta melhor do que aquilo.

Dif.: Pensa que ela estaria bem a cantar o quê? Jazz?

J.D.: Não, o Jazz já está cantado. Já estão todas a morrer e agora só restam dois ou três cantores e depois já não haverá mais cantores como havia. Nem outros porque se sujeitam sempre às obras que já foram cantadas pela Ella [Fritzgerald] pelo [Louis] Armstrong, pela Sarah [Vaughn], pela Billie [Holliday]. É um capítulo fechado. Ela estaria bem a cantar outra música, mais viva.

A decisão do preto, a decisão do estar em palco, da monotonia e do marasmo e do parado é muito servir uma estética quase europeia, da Europa Central. É forçar o exótico; e está desligada da música portuguesa e, na generalidade, dos portugueses. Não tem a haver com Portugal, penso eu. O Abrunhosa tem [a haver com Portugal], porque o Abrunhosa canta ali com os valores universais: o sexo e a política, e chama as coisas pelo seu nome. E tem um balanço descomunal. O Parker foi fundamental mas o papel deles todos... Eu conheci-os pessoalmente, eu conhecia o Pedro Abrunhosa há muito tempo, do Jazz. Também há ali uma costela Jazz e Afro-norte americana na música.

Aliás, o Jazz, ainda por cima, tem servido sempre de amparo à melhor música portuguesa. Você vê os cantores e os autores mais acreditados da música portuguesa, como o Fausto, o José Mário Branco, o próprio Zeca Afonso, toda essa gente tinham sempre a tocar com eles músicos de Jazz, que não estavam a tocar Jazz, mas estavam a tocar bem, ou seja, a educação e a abertura dos músicos da música improvisada sempre serviu para outras músicas. Noutros tempos eles viviam nos fossos dos teatros de revista, nos estúdios de gravação, ainda hoje muitos sobrevivem assim, para darem no fim qualidade - mais qualidade - a uma música que, em princípio, não tem nada a ver com a que eles tocam, mas estão ali a cumprir e a ganhar para o pão nosso de cada dia.

Dif.: Ouvindo-o falar, fica-se com a impressão, que o Jazz está a passar uma grande crise. Onde é que o Jazz parou, quem foi o último grande, ou posto de outra maneira, onde é que o Miles Davis começou a errar.

J.D.: Bom, o Miles Davis nunca errou. Facilitou. O Miles foi o último passo inovador do Jazz. Ele acompanhou tudo, desde os anos quarenta, quando tocou com o [Charlie] Parker, e foi dando passos sempre em frente, e para o lado. Verdadeiros saltos qualitativos - cuidado com o termo, porque o termo agora é usado por toda a gente, até pelos ministros deste país, o que é hilariante também porque é um prova de incultura, um salto qualitativo tem muito particularmente um sentido entrópico que não se pode confundir com outro. Quando se diz "salto qualitativo" não é obrigatoriamente para melhor, é uma diferença de qualidade. Se você aquecer água ela transforma-se, dá um salto qualitativo ao transformar-se em vapor de água. Não é melhor o vapor de água do que a água, transformou-se. - o Miles esteve sempre nisso. Até costumo dizer que uma pessoa que queira conhecer Jazz moderno basta ouvir a discografia do Miles. Todos os grandes passaram pelo Miles. Ouvir a Discografia do Miles chega e sobra para, sem dificuldades entender [o Jazz moderno].

Depois penso que ele foi o último, embora não nos possamos esquecer do Ornette Coleman... mas o Ornette Coleman até é melhor a gente esquecer-se porque ele deu esses pulos quando eu entrei para o Jazz, portanto no final dos anos cinquenta. E a partir daí está sempre a tocar a mesma coisa. Portanto deu esse salto e ficou no sítio onde o salto o lançou.

Já o Miles andou em várias direcções. A última direcção, que foi uma opção dele, declarada, foi juntar a ele elementos rítmicos, fantasias e cores, e elementos de cenário e decorativos em concerto, do rock, e desse tipo de música. Ritmicamente empobreceu-lhe a música, os solistas que ele ia escolhendo sucessivamente eram tantos e tão variados, e alguns tão medíocres, que a música dele perdeu. Agora o Miles manteve-se sempre ao longo do seu percurso sinuoso, a pisar outros terrenos, sempre em permanente experimentação. Mas como se estivesse a escolher cenários. Ele tocou sempre da mesma maneira. Se você tirar ao último disco do Miles tudo o que lá está fora o Miles, o Miles toca exactamente como tocava em 1940. Tocava pior, estava mais cansado, com menos pulmão, menos imaginação, já tinha feito muito e um homem não está sempre a criar. A cena é que é diferente, ele permanece o mesmo. E foi o último inovador nos anos sessenta, princípio dos anos setenta quando liga a música à electricidade, e mete os compassos binários. Penso que foi aí que ele lançou a grande confusão no Jazz, porque toda a gente se sentiu autorizada a fazer o mesmo e a tentarem também. Tipos medíocres, tipos que tiveram êxito, tipos bons, tipos maus - mais maus que bons - e o Jazz não andou mais para a frente.

Não quer dizer que a responsabilidade seja do Miles, porque agora, por exemplo estão a tentar tocar o Jazz «unplugged», portanto tudo acústico, ninguém toca ligado à electricidade, nomeadamente os guitarristas, mas de facto estão a repetir ideias, conceitos, que existiam.

Dá a ideia de que já não há nada a fazer. Mas também porque é que se insiste em que haja novas coisas a fazer. Não percebo. Tudo neste mundo, e os músicos são pessoas como as outras, com a única e grande diferença de serem músicos, nasce cresce e morre, porque é que o Jazz não se havia de estar a repetir? Apesar de que ainda hoje se toca Dixieland, música de New Orleans, Blues, swing, bop, free. O Jazz sempre foi assim, todas as correntes existiram simultaneamente, umas não acabam com as outras. Mas porque é que não acabou a evolução? Porque é que o Jazz não consta na história como a pintura impressionista. Hoje em dia ainda há tipos a pintar no estilo dos impressionistas, e no entanto, como corrente nova o impressionismo acabou. E quem diz o impressionismo diz o cubismo, as diferentes correntes. Hoje sabe-se lá o que é a pintura. Se se diz que a pintura está em crise, se já está tudo inventado, se os materiais já estão todos utilizados na pintura. A pintura já avança para outras áreas das artes plásticas que já não são estritamente bidimensionais e espalhar tinta.

Dif.: Basicamente está a dizer que o Miles teve na música o mesmo efeito que o [Marcel] Duchamp teve nas artes quando expôs um urinol voltado ao contrário.

J.D.: Não será exactamente a mesma coisa, mas serve. Gosto mais do [René] Magritte quando desenha um cachimbo e põe por baixo: "isto não é um cachimbo". Isso é que me parece um exemplo acabado, porque de facto o que parece não é. Só é o que é.

Dif.: Passando para outra área, o José Duarte teve uma colaboração com o Carlos Cruz, no "Pão com Manteiga".

J.D.: E trabalho na "Zona Mais"...

Dif.: Aqueles, vá lá, editoriais que ele faz ao princípio...

J.D.: São feitos por três maníaco-depressivos dos quais um sou eu...

Dif.: O José Duarte nunca teve uma tentação de publicar um livro nesse tom, sem ser ligado ao Jazz.

J.D.: Olhe que este último livro que eu publiquei "Jazzé e Outras Músicas" não é um livro sobre música. Isso prejudicou imenso a saída do livro porque não sabiam onde é que haviam de o arrumar. Não sabiam se ia para a secção de música se ia para os romances, enfim para a ficção. Uns diziam nuns sítios, outros diziam noutros sítios e eu disse "é fácil, põe-se nos dois sítios".

Há um projecto que eu nunca farei, esse não farei mas enfim, tenho que morrer com alguma coisa por fazer... gostava de fazer um livro de «short stories» sobre Jazz, com personagens ficcionados, mas que vivessem no mundo do Jazz. O músico, a amante, o "dealer" de droga, o produtor; para reflectir e para por em historinhas o que eu sei sobre o mundo do Jazz. Passa-se muito por trás dos músicos e por trás dos concertos e por trás dos nomes. A vida de um músico de Jazz, normalmente, regra geral, a privada é muito interessante, porque para um tipo ser um verdadeiro músico de Jazz não pode ser uma pessoa comum.

Dif.: Como é que uma pessoa que é apaixonada por Jazz consegue não tocar.

J.D.: Quando era miúdo tinha muito jeito para a música. Tanto chateei os meus pais a cantar e a fazer batuques com as mãos, que eles me levaram a um professor de música que dava lições e ele fez-me um exame. Ali, uma coisa rápida. E eu portei-me exemplarmente porque tenho um ouvido de cão, um ouvido sensacional. É a única coisa saudável com que eu nasci. E ele fez exercícios com um piano, de costas, e disse que sim, que eu tinha aptidões musicais extraordinárias, mas que tocar piano não porque tinha a mão muito "sapuda". Talvez tocar violino. Ora o violino não era um instrumento da minha preferência e disse aos meus pais que não. Pronto, fico assim. Não se pode ter tudo na vida. E então tocava no Hot, em concertos, nos bares do Técnico, tocava precursão. Na inauguração da cantina universitária, até em sítios menos recomendáveis, que eram, aliás os meus preferidos. Depois descobri que tinha jeito para tocar trombone. O trombone não tem posições, não obriga tipo esta posição dá esta nota como no piano. No trombone apalpa-se o som. Então tinha boa boca e tocava. E fiquei assim um músico falhado para cumprir aquela máxima que diz que todo o crítico é um músico falhado. Não sou crítico mas...

Não tenho pena de não ter sido músico, porque os músicos de que eu gosto e prefiro são tão bons que sofreria muito mais sendo músico do que não o sendo.

Houve uma vez um crítico que tirou um solo do Coltrane de ouvido, era o Coltrane ainda vivo. Um daqueles solos em que ele abre e deita tudo cá para fora a uma velocidade incrível. E ele teve o trabalho de tirar nota por nota e por na pauta. Depois chegou ao pé do Coltrane e pediu-lhe para tocar. O Coltrane não foi capaz. A história é interessante porque nota que, como um tipo quando está a falar, a discursar, a improvisar, é mais rápido do que estar depois a ler. Perde tempo na leitura e é incapaz de falar como improvisou. Nós éramos capazes de repetir esta entrevista. Mas havia sempre outras palavras que surgiam, outras pausas, alturas em que gaguejámos e passávamos a não gaguejar, alturas em que fomos fluentes e passávamos a gaguejar. Até o Coltrane não tocava como ele.

Dif.: Começou a surgir aqui há uns tempos um certo interesse por aquilo que se chama "world music". Como é que interpreta isso? É só folclore? É só porque o que se conhece está esgotado?

J.D.: Eu detesto essa coisa dos nomes porque depois não se sabe do que é que se está a falar. O que é o Hip Hop? Sei lá o que é o Hip Hop, e depois no rock existem imensas classificações que depois as diferenças são mínimas. É tudo para alimentar o mercado. É tudo inventado por tipos que estão em gabinetes.

Essa do world music é outra técnica de marketing. Eu agora estive em Berlim numa reunião internacional, com os world music todos, os países todos, Portugal incluído com a Etnia que é uma célebre cooperativa do Porto - aí está um dos centros de "música limpa" neste país de música para a frente, de música portuguesa - mas estavam lá todos. Eu fui lá convidado para falar, eu e o João Lisboa, e ali no meio da selva lhes disse: o world music não existe. O world music é uma invenção, mas eu enfim, tolero. Todos nós sabemos o que é o world music.

Eu penso que o world music é interessante, simplesmente é música étnica, para não entrar com outra definição, mas esta ao menos é uma palavra inteligível. É música de diferentes países, é musica folclórica. Qual é a diferença entre música folk e música étnica? Vá lá o diabo descobrir. Mas gosto sim senhor. Gosto mais de umas do que de outras. Há folclores que eu não entendo, e que me arrepiam e que não percebo nada do que estou a ouvir, e que me massacro e me fustigo de ouvir e depois às vezes chego a gostar.

Dif.: E a tentativa que alguns músicos da pop fazem para incorporar elementos dessas músicas na música deles. Já não tem nada a ver com isso.

J.D.: Acho bem, eles têm liberdade de fazerem aquilo que quiserem e é uma técnica de colagem que também ela própria já está ultrapassada. Agora no Jazz também existe isso. Existe por exemplo eles porem excertos de discos da "Blue Note" que é uma marca de discos que encabeça esse movimento que é pôr um tema de 1958 depois misturado com rap, e depois por vozes em cima, e depois efeitos, e sai uma salganhada sem definição. Para um tipo que gosta de música não é essa a solução.

Dif.: Não será uma questão de mera colagem comercial.

J.D.: É colagem. Vocês sabem melhor até que eu que com a aritmética não se resolve nada, só com a álgebra é que tudo se resolve. Portanto somar aritmeticamente não dá nada de novo.

Dif.: Mas se não fosse essa colagem, provavelmente muita da música étnica que hoje se conhece não seria conhecida. Por exemplo estou-me a lembrar das vozes búlgaras. Quando a Kate Bush lançou o álbum dela [The Sensual World] em 1989, ninguém ouvia falar das vozes búlgaras.

J.D.: Mas existiam. Não é a Kate Bush que é responsável. As vozes búlgaras são monumentais. Nosso senhor faz coisas certas por linhas tortas. Se calhar de vez em quando sai uma dessas para o grande público através de uma colagem. Ainda bem. Se as colagens servirem para isso já não é mau.

Dif.: Tem algum projecto na manga para os próximos tempos?

J.D.: Eu já fiz tudo o que tinha a fazer. Talvez um programa de televisão. Outro, como as imperiais. Vocês já repararam que um tipo vai a uma cervejaria, pede uma imperial e o empregado diz, regra geral, noventa e nove por cento das vezes: "Outra?". Todos eles. Mas outra porquê? Você está-me a denunciar que eu já bebi uma?

Dif.: De resto confesso que nos facilitou imenso a vida, porque o José Duarte tem fama de ser um óptimo entrevistador mas um péssimo entrevistado, porque está permanentemente a fazer trocadilhos com as perguntas e deixa os entrevistadores...

J.D.: Só as escritas. As escritas é que eu detesto, e aí apuro.

Dif.: Já agora, só mais uma pergunta, para a população do Técnico, há algum disco que quisesse recomendar a quem não conheça nada de Jazz.

J.D.: Qualquer Miles Davis dos anos sessenta com o Wayne Shorter, o Herbie Hancock, o Tony Williams e o Ron Carter; talvez o "Miles Smiles" ou o "E.S.P.".

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egião | 04-10-2006
Alijó - Ministra da Cultura esteve no Festival "Outras Músicas"

A música popular portuguesa e moçambicana estiveram presentes no dia 23 no palco do Teatro Auditório de Alijó. Os "Toque de Caixa", de Portugal, o bailarino António Tavares, de Cabo Verde, e "Muzimba", de Moçambique, encheram de sonoridades e cores o recinto, tendo o público aderido de forma entusiástica.

A música tradicional portuguesa, juntamente com sonoridades celtas, dos "Toque de Caixa", mostrou aos presentes que a vida deste tipo de música, com arranjos e sonoridades alternativas.

De Moçambique vieram os "Muzimba" com um ritmo electrizante, não deixando ninguém parado. As músicas finais foram verdadeiramente concorridas nas laterais do auditório, com o público a dançar e a "invadir" o palco. O bailarino António Tavares actuou com os dois grupos, ligando deste modo as várias culturas.

No final, a Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, subiu ao palco para efectuar um brindo com Vinho do Porto com todos os músicos e bailarinos. Houve ainda tempo para um improviso em que todos participaram, onde a originalidade de cada região "casou" perfeitamente nas diferentes culturas.

Jornal Nordeste


Arquivo: Edição de 13-03-2007

SECÇÃO: Nordeste Rural

Autarca desiste do pavilhão multiusos e avança com Centro de Artes e Eventos

foto
Feira fez as delícias dos visitantes

Terminou, anteontem, a IV Feira dos Produtos da Terra, que decorreu no Pavilhão Municipal de Torre de Moncorvo.

Organizado pela Câmara Municipal local (CMTM) e a Associação dos Comerciantes e Industriais do Concelho de Moncorvo (ACIM), o certame visa promover e divulgar o que de melhor se fabrica na região do Douro Superior.
Assim, durante quatro dias, 31 expositores deram a conhecer produtos típicos, como a amêndoa, mel, vinho e fumeiro, entre outros.
A par da vertente económica, a iniciativa foi animada pelo grupo Capas, Copos e Guitarradas, Adiafa e, no último dia, Toque de Caixa.
Durante a inauguração do certame, que decorreu na passada quinta-feira, o autarca informou que a CMTM vai desistir de construir um pavilhão multiusos naquela vila e apostar, antes, na instalação de um Centro de Artes e Eventos. “É mais centrado na vertente cultural, menos na desportiva, mas serve os mesmos interesses que um pavilhão”, salientou o autarca.
Aires Ferreira realçou, também, que gostava de “fazer desse edifício, um atractivo turístico, acrescentando que pretende “ver o projecto concluído ainda este ano”.
Quanto ao turismo das “Amendoeiras em Flor” que, anualmente, leva bastantes visitantes a Moncorvo, Aires Ferreira sublinha que “se verifica uma diminuição no número de excursões, uma vez que as pessoas optam, cada vez mais, por se deslocarem no seu próprio carro”. Para o edil, o fenómeno pode ser positivo, “porque os turistas movimentam-se mais pela região e deixam mais dinheiro cá”.

Toque de Caixa, mais vivos que nunca

Olá!!Em nome do Toque de Caixa, gostaria de esclarecer,para quem julgava que o grupo tinha terminado,que nunca terminamos!!!Continuamos estes anos todos a ensaiar e a ter actuações ao vivo.Não gravamos desde de 1993,mas estamos neste momento a gravar o novo disco.
Como podem constatar no blog, foram muitas as actuações do grupo.Já apresentamos temas novos ao vivos.Muitosssss.Alguns temas são de nossa autoria.Será uma surpresa para todos, a evolução do grupo em 15 anos sem registo discográfico.
Podem ouvir alguns temas no
myspace.com/toquedecaixa.
A Valsa Venezuelana é um dos temas novos.
A todos um grande bem haja e muita música e boa disposição
Beijos e abraços
Teresa Paiva
Toque de Caixa

Músicos com quem tocamos

Musicos com quem tocamos

Para animar a malta!!!

Aviso!!!Estamos a gravar!!!
Current mood: vibrant
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Avisamos que estamos neste momento a gravar o nosso próximo disco.
Beijos e abraços dos Toque de Caixa

FolkMagazine
Current mood: artistic
Category: Music

Toque de Caixa: COMEMORAR 20 ANOS DE PERCURSO ..>..>..>..>..>..>
Notícias

Formaram-se em 1985, em Matosinhos, com o objectivo de criar novas formas e ambientes acústicos, cruzando o moderno e o tradicional. A partir de finais de 1986 evoluíram verdadeiramente de um simples grupo de cantar as janeiras até à experiência de um projecto folk-fusão consistente, culminado com a edição de um disco em 1993, «Histórias Do Som», até aos concertos no estrangeiro. Todavia o tão anunciado segundo disco oficial ainda não acompanhará a banda nortenha neste seu vigésimo aniversário.

Foto: Toque de Caixa
Foto: Toque de Caixa

A formação actual dos Toque de Caixa

Liderados pelo polivalente cordofonista Miguel Teixeira (ex-Vai de Roda), os Toque de Caixa renovaram-se e hoje são um conjunto bem mais unido que antes. Tendo em conta que grande parte dos seus elementos dificilmente conseguiam gerir as actividades profissionais com as da banda, a situação mudou muito nos últimos tempos tendo o grupo portuense participado em vários concertos e festivais um pouco por todo o país.
Com o entrosamento dos elementos actuais - Miguel Teixeira (cavaquinho, rajão e guitarra), Horácio Marques (guitarra e braguesa), Albertina Canastra (acordeão e concertina), Fernando Figueiredo (baixo), Emanuel Sousa (violino e bandolim), Teresa Paiva (gaita-de-foles e flauta), Pedro Cunha (piano) e Tiago Soares (percussões) – a banda ganhou consistência ao ponto de terem desenvolvido originais "suficientes para um álbum duplo", chegou a confessar Miguel Teixeira ao FolkMagazine.info.
Tendo em conta o andamento do projecto, o tão aguardado segundo álbum dos Toque de Caixa, que já este prometido para 2004, poderá estar agora bem mais próximo da sua produção e lançamento oficial.

«Histórias Do Som» premiado
A transição para os anos 90 deu a conhecer ao público a nova geração folk-fusão nacional pela banda Toque de Caixa. A riqueza acústica inspirada na música tradicional portuguesa fez com que a banda se projectasse internamente, onde a presença no palco do Festival Intercéltico do Porto é exemplo disso. Entre Julho e Setembro de 1993 grava com a editora Numérica o disco «Histórias Do Som» que faz a sua edição em Novembro, em colaboração com a Cooperativa Cultural Etnia.
Logo nesse mesmo ano o disco veio a ser considerado como o melhor trabalho de música popular portuguesa, pela principal crítica especializada nacional, obtendo, no ano seguinte, o prestigiado Prémio José Afonso.

Nos mesmos palcos que Swarbrick ou Maddy Prior
Com a edição do primeiro disco não tardaram os convites externos entre os quais se destacam concertos e participação em festivais de renome a nível europeu, em países como França, Espanha, Alemanha ou Reino Unido.
De referenciar ainda duas digressões: a primeira em Agosto de 1992, onde os Toque de Caixa participaram em mais de 15 concertos, incluindo prestigiados festivais como os de Lincoln, Llangollem, Pontardawe, Garden Festival e European Arts Festival. Na segunda digressão por terras britânicas participam, entre outros, no Eurofolkus Festival, partilhando os palcos com nomes como Maddy Prior, Dave Swarbrick, Kathryn Tikell. Durante esta digressão fazem vários work-shops para escolas primárias, universidades, e eventos musicais, onde a banda recolheu grande sucesso.
Aproveitando o seu 20º aniversário a banda disponibilizou a todos os internautas interessados em saber mais

IBERFOLK (PONTOS DE VISTA)
Category: Music

Domingo (dia 4 de Iberfolk)

Noite de bons concertos. Grupo Coral do Sabugal (sem microfones, pelo que se ouvia mais a música que o próprio Grupo Coral), Dazkarieh a agarrar o público por completo (grande concerto) e Toque de Caixa a fechar o festival com o público a pedir mais e mais (a esta altura do campeonato só queria que eles se tivessem raspado para o Porto como estavam a prometer à 42 musicas atrás).


Acabados os concertos, invasão de palco por parte do pessoal que veio de fora (em trânsito para o Andanças), os quais, com o apoio musical dos Dazkarieh dançaram umas boas duas horas, seguindo a festa para o rio onde se prolongou até de manhã.


Concluindo

Não me mal interpretem. O facto de estar a dizer mal de praticamente tudo, não significa que foi um mau festival, significa apenas que estive a bulir durante o festival, o que dá uma perspectiva ligeiramente diferente e muito pouco objectiva. Além disso, este tipo de música não faz mesmo o meu género (ou seja, se isto fosse a pagar, eu não ia), mas tenho de admitir que Chuchurumel, Diabo a 7 e Dazkarieh são excelentes bandas, que valem a pena vêr em qualquer ocasião (especialmente Chuchurumel, que conseguem escapar mais ao gueto da "música tradicional").
Quem participou pareceu ter gostado. O pessoal que por cá caiu, prometeu voltar no próximo ano, com mais amigos. Digam qualquer coisa nos comentários, só para conhecer outras opiniões fundamentadas.
Este foi apenas o primeiro, para o ano haverá mais, com muitas arestas limadas, novas (e melhor potenciadas) atracções e, se tudo correr bem, dessa feita não trabalho.
Anonymous Anónimo said...

Bem. Há anos que eu penso que o Sabugal deveria fazer um Festival Folk (ou Jazz, ou Blues ou Rock) e programá-lo de modo a entrar na rota dos outros Festivais. Aí divulga-se o concelho e vem muita gente de fora.
Sobre este primeiro Iberfolk penso que até foi bom. Lamento o incumprimento dos horários por parte da organização. Eu sou daqueles que pagava para ver ( este ou de qualquer género musical).
Acho que os melhores foram mesmo os TOQUE DE CAIXA. Os Dazkarieh são muito comerciais. Chuchurumel e Galandum foram bons, também. É preciso é trazer bandas de primeira linha como Brigada Victor Jara, Gaiteiros de Lisboa, etc.
Não me interessa o prolongamento das actividades depois dos espectáculos (quero é boa música) e não acho piada à mistura com coisas de cá que nada têm a ver com Folk. Não vi o tal Festival do Acordeão (desde que vi uma vez, jurei que nunca mais- Aqueles, se os deixassem estavam lá toda a noite no palco).

2:07 PM

Blogger Pedro Bala said...

A ideia que ficou do festival foi a seguinte: atingiu-se o ponto (musical) alto no primeiro dia, com 2 bandas que se vêm em qualquer lado e com gosto, e a partir daí foi sempre a descer, com leves variações. Também ficou a ideia que não se sabia bem que tipo de festival era, fosse pela banda a tocar a aldeia da roupa branca, seja por pessoas a ralhar com chuchurumel, seja por horas infinitas de acordeão, ainda por cima sem o Quim Barreiros. Tá bem que foi o primeiro iberfolk, mas raisparta o idiota que se lembrou dos acordeons ou concertinas ou que raio eram. No geral o festival foi fraquinho, valendo os doidos das actividades radicais e adultos a gritar dependurados da escalada para animar as tardes. Pró ano esperamos uma melhor distribuição das bandas pelas noites do festival e que ninguém se lembre de convidar musicos que mandam o pessoal para casa, como os acordeons e assim. Para finalizar: O festival foi grátis, mas se não fosse teria corrido mesmo muito mal. Ainda por cima com a cerveja aquele preço. Um bem haja à organização (um bem haja, eheheh), e em especial ao grande Manel Zé. Sem ele não havia comes, só bebes.

3:48 PM

Blogger Frida said...

então e a foto onde estás pendurado pela corda e agritar "quero ir para baixo!!"??? Posso pô-la à venda na net...

4:12 PM

Anonymous Anónimo said...

caro anónimo não sei o que quer dizer com comercial!!!!! no que diz respeito a toque de caixa sim foram uma surpresa pela positiva pois tal como todos os outros interpretes sao muito bons artistas mas cheira-me, pelo tipo de discurso que apresenta na sua mensagem, que terá algo a ver com a banda em si, e sua contrataçao não? se estou enganado as minhas desculpas e esplique melhor pois nao sei se reparou toque de caixa toca musicas de outras bandas inclusive de daskarieh ou seja se eles sao comercias, que podemos dizer de bandas que tocam musicas deles, quer originais quer outras que resultam de recolhas feitas por Portugal fora ao longo de anos,claro nao esquecendo tambem a influencia estrangeira apresentada em algumas musicas.
já agóra o que ouvimos não é muisica Folk mas sim de indole tradicional, onde o trabalho de pesquisa e de recolha impera nas bandas.

9:36 PM

Anonymous Anónimo said...

Nada disso: nada tive ou tenho a ver com os Toque de Caixa, nem com qualquer uma das outras bandas deste Festival e muito menos com a sua contratação. Nem sei onde foi buscar essa ideia.
Os Toque de Caixa, para mim, não são uns desconhecidos. São muito bons músicos. Tenho, há mais de 8 anos o CD deles, "Histórias do Som" que ganhou o Prémio José Afonso. Não é um prémio qualquer. E vi-os em 1998 , na Expo em Lisboa, convidados pelo Luís Represas.
Sobre Folk (palavra inglesa que significa Folclore), parece-me que anda aí muita confusão. Há, por aí agora umas bandas como Sangre Cavallum e outras que se dizem Folk,ou neo-Folk, mas o Folk é o mesmo que tradicional (ou seja, pesquisa e tratamento/recriação da música tradicional). Tal como , agora há umas cantoras e cantores de R'n'B , que para mim sempre foi Rythm 'n'Blues e nada tem a ver com o que é feito agora(R'n'B eram bandas inglesas como os Dr. Feelgood ou os Solid Senders, passando pelos Inmates).
Música Folk começou a usar-se, talvez para designar bandas inglesas como os Fairport Convention e hoje usa-se em todo o mundo. Há , também, o Folk Rock, que podemos aplicar a bandas portuguesas como os GINGA, ou mesmo Quinta do Bill.Se os TOQUE DE CAIXA tocassem no estrangeiro diriam lá que era uma banda de WORLD MUSIC (uma designação mais alargada que abrange as músicas do mundo, ou seja de cada um dos países). Mas como tocaram cá é Folk aquilo que produzem (vão às raízes portuguesas/tradição) e recriam a música, aplicando-lhe outros tratamentos sonoros que não se fariam na época em que os temas foram recolhidos, sobretudo em zonas rurais.
Mas isso é que fazem quase todos os grupos do género , desde a Brigada Victor Jara, aos Att Tambur, passando pelos Gaiteiros de Lisboa,ou nos anos 70 a Banda do Casaco (esta com grandes misturas e quase inclassificável, mas com grandes influências do tradicional).
Achei a interpretação dos Dazkarieh, exceptuando a cantora (voz muito límpida no tema tradicional) , como muito mais comerciais que os outros grupos presentes no Festival. Usavam instrumentos que nem sequer eram portugueses (boozoki, nickelharpa electrificada, etc). Eu não disse que não era bons. Simplesmente, gostei mais dos Toque de Caixa.
Sobre o facto de os Toque de Caixa tocarem músicas de outras bandas: não, o que eles tocam é temas que outras bandas tocam, mas são temas tradicionais (em inglês Trad Arr que quer dizer tradicional arranjado). Muito do reportório dos Toque de Caixa era de temas da autoria deles próprios , mas baseados, sim, na música tradicional portuguesa.
Por exemplo os Galandum Galandaina só tocam temas mesmno tradicionais. O mesmo faz a Brigada Victor Jara (tenho a discografia toda deles e só um tema é não tradicional).
Não vi os Diabo a Sete, mas no ensaio de som percebi, que , esses sim, tocavam muitos temas que eu conheço interpretados pela Brigada Victor Jara.

10:37 PM

Blogger Frida said...

e a foto?? Ninguém quer comprar a foto?? Vendo barato.

11:38 PM

Blogger El Mono said...

E que tal assinarem?
Não me parece que esta conversa descambe para o insulto fácil.
Ao menos usem um pseudónimo, que isto dos anónimos torna-se repetitivo...

11:50 PM

Anonymous carlos said...

A minha opinião é que Dazkarieh é uma banda realmente muito à frente. Talvez mesmo FOlk Rock. E claro que alguem que gosta dos Toques de Caixa, com aquelas interpretações pseudo-celtic nations (argh)e tradicional quadradão, assim como a Brigada nunca vai gostar de Dazkarieh.
Eles fizeram o melhor concerto do festival e os Toques de Caixa só mantiveram mais ou menos o publico porque esse ja tinha sido aquecido antes.

5:36 PM